quinta-feira, 9 de abril de 2009

Meditação de um 5° Kyu - Sefirat ha Omer 2009 - Dia 01

"Aikido é Amor"
Bondade na Bondade



Tentemos analisar a questão do amor dentro do Aikido. Relembrando que a tradução comumente utilizada é Ai = Harmonia, Ki= energia e Do= caminho. Aikido seria (interpretação minha) "O caminho da energia harmoniosa". Mas em japonês o fonema "ai" também pode ser interpretado como "amor", talvez daí, O-sensei ter dito "aikido é amor". Como Aikido é o caminho da energia harmoniosa, ele vai além da questão meramente marcial compondo todas a matizes de nossas vidas.
Todos temos, dentro de nós, a capacidade de amar. Talvez difira a maneira como o expressamos. Talvez difira a intensidade de nosso amor. Percebi que após a prática do Aikido minha expressão e intensidade de amar as pessoas tem mudado como nunca mudou. Vagarosamente, claro, pois sou humano cheio de defeitos. Antes não deixava as pessoas entrarem em minha vida. Tanto como nage como uke, estou aprendendo a harmonia de "deixar acontecer", "receber o outro" como uma dádiva de Deus (Kami, Alá, Jeová, etc..) .
Talvez a importância do jiu-waza também seja a capacidade de aceitarmos várias pessoas "entrando" em nossas vidas. compartilhando nosso amor com elas e o delas para conosco. O revezamento entre ser Uke e ser Nage, também trabalha esta questão de ora darmos amor e ora recebermos amor. Engraçado como várias vezes percebi querermos ser mais Nage que Uke. É mais fácil dar amor que recebê-lo. É como se não quiséssemos estar "em dívida" para com o outro. Não queremos o amor dele para não precisar retribuir, sendo que pela harmonia nem precisaríamos perceber isso, já que aconteceria naturalmente. Talvez como o uke esteja na função de "cair", não queremos "cair" em todos os aspectos psicológicos desta "queda" (incluso "cair de amor"). No jiu-waza, até agora pelo que vi, a medida que se vai evoluindo nas faixas, acrescenta-se mais e mais ukes, num exercício do "coração de mãe", ou seja, sempre cabe mais um.
Percebi a alegria de ser Uke, de e conceder espaço para a outra pessoa expressar o amor dela. De deixar o outro ser o centro (talvez um dia, consiga abordar os aspectos da Física - força centrípeta e centrífuga do Aikido), de ser o coadjuvante do espetáculo que é a vida do Nage/Outro.
Já tinha feito uns três meses de Aikido mas, por motivos diversos, fiquei afastado uns cinco anos. Quando retornei percebi que estava com mais medo de cair, principalmente do lado esquerdo. ficava temeroso , invertia a queda, me machucava. Não soltava meu corpo. Caia duro feito tijolo. talvez com medo de mostrar minha vulnerabilidade. Aos poucos fui perdendo medo de me jogar no chão, no desconhecido, no vazio. E, meus amigos, como temos medo do vazio. Temos medo de "dar amor' e "receber o vazio". Daí, talvez, expressar meu amor de maneira dura, rígida, severa etc...
A técnica de O-sensei com o tempo ficou mais fluida (mas nem por isso menos marcial). Alguns pensam que o certo é ser rígido, forte, severo. Não estão errados, creio eu. Isso é só uma fase. O-sensei dizia "começamos sem forma, depois de muito treino entramos na forma, e com a sabedoria e muito mais treino, saímos da forma". Neste momento analiso que nascemos com amor, saímos do amor e por fim, retornamos ao Amor (com letra maíscula). Estou meditando se isso poderia ser uma das interpretações desta frase de O-sensei.
Takemussu, se não me engano (corrijam-me) significa "verdadeiro". Então qual é o Verdadeiro Amor? De que maneira expresso meus verdadeiros sentimentos. Uke e Nage não podem fingir que, respectivamente, recebem e aplicam um golpe. Tem que ter a intenção. Tem que ter sentimento verdadeiro, pois só nos mostramos por completo com a Verdade.
Às vezes, no jiu-waza, páro no meio de um golpe. Travo. Bloqueio. Minha mente fica confusa. Reflexo de que somos condicionados a refreiar nossos sentimentos. Não deixamos fluir. Somos treinados a controlar nosso amor. Ele , dizem, tem hora certa, intensidade certa e pessoa certa para expressar. Seria mais fácil deixar acontecer? Darmos amor e recebermos de maneira harmônica e automática. Creio que a prática do Aikido me responderá esta pergunta.
A técnica de entrada (irimi) é um dos aspectos primordiais no Aikido. Quero fazer um post com cada um dos principais conceitos do Aikido. Mas por enquanto quero me deter no Irimi. Entrar cedo demais ou tarde demais pode ser uma questão de vida ou morte numa luta. Talvez no amor também. Expressar amor cedo demais ou tarde demais pode resultar em várias desarmonias em nossas vidas (já passei por cada fora por não entender este conceito...). Daí que (excetuando uma luta real) quando um Uke e Nage (pode ser marido e mulher) se entendem, percebem quanto de amor vai ser dado e como ele vai ser recebido, a técnica flui. E é muito bonito se ver. Daí as pessoas pensarem que Aikido seja uma dança, pré-combinada, mas não... é simplesmente o baile cósmico, a dança dos planetas e sóis do universo refletidas em nossas vidas, no tatame...
A quem eu amo? Devo amar primeiro a mim e entender e estender este amor ao próximo, independente se relacionam comigo ou não. Um dia, talvez, ele (o outro) entre na esfera dinâmica, na força centrípeta de nossas vidas, ou nós na dele. Daí cabe a nós continuar a elipse universal da vivência humana. Seja o outro conhecido ou não. Não por que é cômodo eu dar/receber amor. E sim porque é parte integrante e necessária da vida (assim como o irimi, tenkan, tai sabaki etc.. são do Aikido).
O que posso fazer então para expressar esse amor que O-sensei já dizia?
Calma lá, sou só um 5°kyu. espero um dia poder-lhes responder de minha experiência.
Onegashimás.

3 comentários:

  1. Olá Vimerson.
    Parabéns pelo blog, já está adicionado.
    A palavra takemusso, não tem uma tradução literal, vários praticantes próximos de O'Sensei a traduziam como "verdadeiro", certa vez ele falou comigo e disse que era algo como conciliação, adaptação, te conto esta um dia.
    Abraços.
    Parabéns.
    Massako

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  2. Boa tarde, agradeço o convite para visitar seu blog. Não tenho esse hábito, tampouco costumo fazer comentários, mas foi com enorme prazer que descobri suas palavras. Aliás, muito inspiradoras. Parabéns pela iniciativa e obrigado por mostrar o Aikido além da esfera marcial. Abraços, Ronildo.

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  3. Também quero parabeniza-lo pelo blog, também me inspirou muito sem contar que é uma forma d'eu continuar praticando Aikido....
    Oss

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